Nos anteriores artigos, tive oportunidade de mencionar algumas das principais alterações e as suas consequências, no sector de retalho das agências de viagens. Resta agora falar um pouco do futuro para as agências em Portugal (e não só).

A conjuntura económica é algo que certamente tem uma influência muito grande quer no comportamento dos consumidores quer na capacidade de investimento das agências. Desse ponto de vista, não é expectável que os próximos anos tragam uma grande melhoria em relação àquilo que foi a realidade dos últimos anos, marcados por crises económicas e financeiras que criaram um retrocesso nos níveis de crescimento do país e uma diminuição do rendimento disponível. Uma das razões fundamentais para que tal tenha sucedido foi o crescimento descontrolado das despesas do Estado, dado que há quem ainda não tenha entendido que o Estado tem de se limitar às suas funções essenciais e de regulação, emagrecendo para que haja libertação de meios para quem de facto dinamiza a economia, o sector privado.

A diferenciação e a inovação serão as armas ao dispor das agências para poderem ganhar espaço e sobreviver. Os consumidores alteraram significativamente o seu padrão de consumo e as suas necessidades/exigências em relação ao início da década anterior, o que abre caminho a novas oportunidades. Por outro lado, a evolução tecnológica vai continuar a ser uma realidade e a permitir ter acesso a novas ferramentas e mais baratas para poder vender e promover. Mas vamos por partes…

No inicio do milénio, tivémos um mercado de retalho de viagens claramente marcado pelo maravilhoso “mundo novo” de destinos que se tornaram de mass market, fruto da capacidade de financiamento dos operadores e da capacidade de compra por parte dos consumidores (e também de endividamento). O expoente dessa realidade foi o Brasil, destino em que se chegou a ter operações charter diárias, com vários operadores a comercializarem o destino, ainda que com resultados finais duvidosos. Este destino chegou a ser vendido a cerca de 500 € por pessoa…

Essa realidade transformou-se, como tive já tive ocasião de referir, devido à crise económica. Mas em paralelo surgiu também uma crescente apetência pelo viajante em procurar nao só novos destinos mas sobretudo dando lugar à procura de novas experiências e novas prioridades nas suas escolhas de destinos. Conceitos como os do turismo rural e turismo de aventura começaram a ganhar cada vez mais adeptos. A necessidade de valorizar cada vez mais as experiências adquiridas ao conhecer um novo local (cultura, gastronomia, fauna, natureza) passaram gradualmente a ter um peso cada vez maior na escolha de um destino e no grau de conhecimento do interlocutor que aconselhava determinado destino. Em vez de basear a escolha quase exclusivamente na questão do clima ou da “moda”, o viajante passou a decidir com base na mais valia do destino nessas novas variáveis.

Os chamados nichos de mercado começaram a ganhar mais peso e a valorização da agência começou a ser influenciada pelo grau de conhecimento da agência nessas componentes: mergulho, aventura, luxo, cruzeiros, neve, desportos radicais e grupos de interesse, como o da fotografia, são algumas dessas segmentações. As redes sociais e o seu peso como motivadoras e instigadoras de determinados comportamentos e geradoras de grupos de interesse tem sido outra das áreas que têm vindo a influenciar a área das viagens. È notória a influência que tem junto dos consumidores enquanto criadora de destinos “trendy” e na divulgação de comunidades aglomeradas à volta de um interesse especifico. Os fóruns e sites de aconselhamento como o Tripadvisor são espelho dessa nova realidade.

Num quadro em que parte dos serviços adquiridos é encarada como um commodity pelos consumidores (caso das passagens aéreas, em especial nos casos ponto a ponto em viagens de lazer) e em que a “desintermediação” é a regra, em que a capacidade negocial é marginal dado que é possível ter preços iguais ou semelhantes aos da concorrência, o caminho das agências de viagens é estreito. Ter uma rede de alguma dimensão dirigida a um mass market significa ter a necessária estrutura interna compatível com a dimensão dessa rede, de forma a gerar um volume que sustente as baixas margens e, como tal, obriga a uma grande capacidade financeira, que só está ao alcance de poucos (ainda assim, com resultados incertos, como se viu em alguns casos).

Na última parte desta “dissertação” falarei sobre os possíveis “caminhos” a seguir para poder aproveitar as oportunidades e desafios que este sector enfrenta.